Para compreendermos Adolf Loos e sua obra, é necessário refletir sobre a importância que a tradição exercia sobre o seu pensamento e sua prática enquanto arquiteto e homem. E como a História (tanto no sentido de todas as memórias que o arquiteto dispõe, como na consciência de um tempo presente determinado e enquadrado num processo), interfere determinantemente no ato e resultado do projetar. A História torna-se em Loos como um baú de soluções onde sempre se pode recorrer para as buscas contemporâneas por uma linguagem arquitetônica válida e verdadeira. Esse arquiteto defendia, assim, uma imutabilidade dos princípios arquitetônicos.
Segundo Frampton, para Loos, toda cultura dependia de certa continuidade com o passado e não de uma procura da novidade formal. Para ele a modernidade se explicava, não como sujeita ao tempo, mas sim como dependente do contexto cultural. É importante salientar que a afirmação dessa constância de princípios e essa idéia de continuidade são associadas à adequação da arquitetura ao programa e à resposta às necessidades de um contexto cultural específico do período particular.
O século XIX foi tempo de atitudes historicistas por parte dos arquitetos, que provocaram cópias e imitações baratas de determinado estilo, pouco ajustadas à realidade vigente. Em vez de uma compreensão da linguagem de uma época histórica, era realizado um redesenho deformado do passado. Os arquitetos do período viam na cópia da arquitetura passada e no estudo de seus cânones e tratados uma legítima linguagem estética a ser trabalhada. Os grandes esforços eram direcionados para a defesa de um estilo antigo no lugar de uma discussão da contemporaneidade da arquitetura e das exigências que a sociedade do seu tempo, que passava por uma constante e acelerada mudança, lhes exigia. Esse historicismo era rechaçado por Adolf Loos. Ele também fez uso de uma linguagem clássica, mas sem uma excessiva ornamentação. Ela aparecia justamente com o objeto utilizado (textura, desenho e efeito visual da pedra) através de materiais da sua época. Loos escreveu: "... pergunto-me em que tempo teria preferido viver, então respondo-me que no atual". De acordo com Kenneth Frampton, Loos argumentava que o arquiteto originário da cidade era alguém desarraigado por definição, e, portanto, categoricamente alienado do vernáculo rural, não podendo compensar essa perda pretendendo herdar a cultura aristocrática do Classicismo ocidental. Pois a burguesia urbana – da qual ele procedia e à qual naturalmente servia – tinha, entre os seus outros atributos, uma configuração certamente não aristocrata. Ainda segundo Frampton, com a única exceção de Mies van der Rohe, talvez nenhum outro arquiteto da geração de Loos tenha sido tão consciente como ele do caráter irremediavelmente desarraigado da Idade Moderna.
A arquitetura evolui com a técnica e muda de acordo com a cultura em que está inserida e da qual acaba por se tornar a forma mais visível, apresentando características do seu tempo e lugar. O que Adolf Loos defendia é que o arquiteto não pode por si acelerar o processo, que o progresso não depende de indivíduos particulares, mas de grandes mudanças históricas. De acordo com Benévolo, no apelo wagneriano para a liberdade do artista e na inspiração decorativa de Olbrich e de Hoffmann, Loos vê uma espécie de dissipação cultural, substancialmente análoga à dos estilos tradicionais contra a qual combatem Wagner e os seus. O arquiteto tem que saber evoluir no mesmo ritmo do progresso e da técnica e com ela fazer uma arquitetura verdadeiramente do seu tempo. É dever do arquiteto compreender, desvendar e aplicar a técnica, inexistindo para Loos possibilidade de uma linguagem à margem dela. Tendo como princípios para uma arquitetura atual a cultura e a técnica de onde se constrói, a linguagem de uma época não se inventa nunca – ela ocorre. Segundo Leonardo Benévolo, Loos defende a modéstia e a discrição em contraposição ao culto da originalidade. Esse arquiteto era incapaz, de acordo com Frampton, de aceitar a idéia romântica de um indivíduo extremamente talentoso que transcendesse os limites históricos de sua própria época. Loos advertia: “Livra-te de seres original.”
O ato de inovar deriva antes de tudo de questão de percepção, ver o mundo com os olhos do seu próprio tempo, olhos que sejam críticos e questionem, procurem ver mais além. O arquiteto inovador é pois, aquele que questiona a realidade sobre novas perspectivas, não o que é responsável por uma arquitetura totalmente nova, mas por uma que mostra os novos valores e novos modos de ver. Ao valor do novo, Loos contrapõe, novamente segundo Benévolo, a avaliação não-emocional do que é conveniente.
“Pode-se fazer algo de novo somente se se pode fazê-lo melhor. Apenas as novas invenções – luz elétrica, cobertura de madeira e cimento, etc. – podem mudar a tradição.” (LOOS, 1914)
Adolf Loos se interessava – diferentemente dos seus contemporâneos do Art Nouveau, que se esforçavam para encontrar um "novo estilo", próprio da sua época – em buscar compreender o "sentido histórico", ou seja, descobrir dentro da História, que é um processo lento e progressivo, como deve ser a arquitetura do seu tempo, como ela deve interpretar e reordenar os valores tradicionais. A arquitetura, nessa ótica, não deve nem pode surgir como um ato criativo totalmente inovador, mas sim como parte do contínuo processo que persiste em transformar as formas gradualmente, refletindo sobretudo a técnica que evolui e os hábitos do quotidiano que se transformam de acordo com esses mesmos avanços técnicos. A arquitetura de um tempo deve portanto, surgir de modo natural a partir da realidade e apresentar-se como a resposta mais lógica aos problemas que vão surgindo na própria época. Toda forma é o resultado de um processo – não o inverso – e deve ter o seu fundamento embasado no estudo das mudanças. Em seu ensaio Regras para o que construir nas montanhas, de 1913, Loos escreveu:
“Não temas que te tachem de não ser moderno. Só permita aquelas transformações no modo de construir tradicional quando indiquem melhoras. Não sendo assim, conserve os sistemas tradicionais, pois a verdade, nem que tenha mil anos, compenetra-se melhor conosco que a mentira, que caminha ao nosso lado.”
De acordo com Frampton, quando o ensaio crítico Architektur foi publicado, em 1910, Loos já começava a perceber toda a força de uma conjuntura moderna, que persiste até hoje. Esse arquiteto antecipa uma crítica corrosiva à exageração anti-passado que irá dominar o Movimento Moderno através de seu pensamento já discutido aqui, que na realidade nada se pode inventar de novo absoluto. Adolf Loos critica a arquitetura do seu tempo, sobretudo os arquitetos do Art Nouveau, que foi uma forte reação contra o Classicismo praticado nos fins do século XIX, representando a primeira tentativa sistemática de mudar o sistema clássico da arquitetura e das artes decorativas e o primeiro estágio da arquitetura moderna na Europa. A procura por um estilo para a sua época, objetivo fundamental do movimento, faz-se através da negação de qualquer revivalismo, e até mesmo da própria história, o que se torna alvo da crítica voraz que Loos lhe faz, considerando-o inatual, uma arquitetura condenada a não ganhar lugar no tempo justamente por negar o processo histórico como princípio. Para ele, o Art Nouveau era visto apenas como mais um estilo transitório e superficial.
Frampton cita Theodor Adorno, que faz referência a Schönberg (compositor austríaco de música erudita, 1874-1951) e Loos dizendo que, para eles, a cultura tradicional e a inovação radical estão tão intrinsecamente unidas que nem uma nem outra podem ser classificadas vanguardistas.