terça-feira, 7 de outubro de 2008

Introdução / Resumo.

O arquiteto austríaco Adolf Loos viveu em uma época de crise de identidade nacional induzida pela recente unificação alemã e é um dos pioneiros incontornáveis do movimento moderno mundial. Sua obra – tanto as construções, desnudas de qualquer ornamentação supérflua, como os escritos – têm um profundo significado para a evolução arquitetônica. Ele foi como uma combinação de dândi e moralista da arquitetura. Esse arquiteto, que se destaca também pela coerência moral e disciplinar que manteve durante toda a vida, gerou muita polêmica com suas várias declarações críticas. Em uma perspectiva histórica, muitas de suas mensagens têm se mostrado certas, por isso sua importância para o desenvolvimento de uma nova base da cultura arquitetônica é indiscutível. Com um modo de pensar diferenciado, Loos de certa forma preparou o caminho para o estilo moderno.

Em seu livro, História Crítica da Arquitetura Moderna, Kenneth Frampton diz que a importância de Loos enquanto pioneiro dependeu de sua extraordinária percepção como crítico da cultura moderna, e também de sua formulação do Raumplan como estratégia arquitetônica para transcender o legado cultural contraditório da sociedade burguesa que, tendo se privado do vernáculo, não tinha como pretender, em troca, a cultura do Classicismo. Partindo de textos do próprio Adolf Loos e dos estudos realizados por historiadores como Leonardo Benévolo, Giulio C. Argan, Sigfried Giedion, o já citado Frampton, etc., esse trabalho visa discutir mais detalhadamente esse ataque de Loos ao Classicismo e à originalidade inventiva.

Quem foi Adolf Loos?
As Críticas.
Fazer uma arquitetura do seu tempo.
Referências Bibliográficas.
Extras / Downloads.

Quem foi Adolf Loos?


Adolf Loos foi um notável arquiteto austríaco. Filho de um pedreiro, nasceu em Brno, Morávia, em 10 de dezembro de 1870. Foi surdo até os doze anos, e talvez esta limitação física tenha influenciado em seu caráter e em seu destino. Começou a trabalhar cedo na empresa de seu pai, que morreu quando Loos tinha apenas nove anos. Recebeu formação técnica na Escola Real e Imperial do Estado e prosseguiu seus estudos na Faculdade de Tecnologia de Dresden. Em 1893 foi para os Estados Unidos para ver a World’s Columbian Exposition de Chigaco. Durante os três anos em que permaneceu no país não trabalhou em nenhum atelier de arquitetura, passou por diversos empregos que ajudaram na sua compreensão dos materiais e da construção e também a adquirir a humildade para enquadrar dentro de certos limites o papel do arquiteto. Loos familiarizou-se com os feitos da Escola de Chicago e com os escritos teóricos de Louis Sullivan, como Ornament in Architecture, que acabariam o influenciando.

Em sua viagem de regresso a Viena visitou Londres e Paris. Começou então, em 1896, sua carreira como projetista trabalhando com interiores e escrevendo artigos para o liberal Neue Freie Presse (Nova imprensa livre), sobre vários assuntos, como arquitetura, vestuário, boas maneiras e música. Este arquiteto desenvolveu uma importante obra teórica, formada por conferências, artigos e pequenos ensaios que publicava regularmente desde 1897. Em 1903, lançou o jornal Das Andere (O Outro – periódico para a introdução da civilização ocidental na Áustria), que só teve dois números, terminando no mesmo ano.

A partir de 1900 fica explícita sua divergência com a Secessão Vienense – movimento artístico vanguardista que integrava vários grupos de diferentes cidades da Alemanha e da Áustria – com a publicação da fábula Gesamtkunstwerk, “A história de um pobre homem rico” e depois em 1908 com a publicação de seu famoso texto “Ornamento e crime”. Em 1912, devido a sua preocupação e interesse pela formação dos arquitetos, funda sua própria escola de arquitetura, que nem chegou a ser oficializada e acabou em 1914 com o início da guerra.

Adolf Loos escandalizou a sociedade vienense com seu estilo de vida livre e cosmopolita. Apesar do que os jornais informavam continuamente sobre ele e que seu nível de popularidade em Viena fosse muito alto, não chegou a alcançar nunca em vida aquele status de estrela ao qual chegaram Le Corbusier, Walter Gropius ou Mies van der Rohe.

Exerceu sua profissão durante largos anos e passou por três casamentos mal sucedidos, até sua morte a 23 de agosto de 1933.

As críticas.

Junto com suas construções e projetos, os textos e ensaios de Adolf Loos são elementos fundamentais em seu trabalho arquitetônico. Ele vivia fazendo críticas à maioria dos seus colegas. São conhecidas suas mordazes observações contra a ênfase excessiva em efeitos decorativos, que aparece na galeria “Secessão” de Joseph Olbrich, em Viena (1898); sobre Josef Hoffmann – o aluno mais conhecido de Otto Wagner, segundo Giedion – e Henry van de Velde; sobre o modernismo em Viena e Munique.


A obra escrita de Loos gerou muitas polêmicas. Argan esclarece que ele condena a originalidade inventiva, defendendo que apenas as inovações técnicas podem determinar modificações nas formas construtivas; denuncia o ornamento como crime porque pesa na economia da construção; nega a arquitetura porque, se não atende a necessidades práticas, é imoral e, se atende, não é arte.

São muitos os ataques feitos por Loos. Ele condena também o historicismo que vigorou no século XIX, pois defendia a compreensão do processo histórico em vez da cópia dos estilos passados. Critica a “arte total”, defendendo que o arquiteto não pode interferir no modo de viver das pessoas. Defende ainda que os artesãos não são artistas, pois produzem coisas úteis, e é a favor de uma arquitetura lógica, expressa pelos materiais.

Fazer uma arquitetura do seu tempo.

Para compreendermos Adolf Loos e sua obra, é necessário refletir sobre a importância que a tradição exercia sobre o seu pensamento e sua prática enquanto arquiteto e homem. E como a História (tanto no sentido de todas as memórias que o arquiteto dispõe, como na consciência de um tempo presente determinado e enquadrado num processo), interfere determinantemente no ato e resultado do projetar. A História torna-se em Loos como um baú de soluções onde sempre se pode recorrer para as buscas contemporâneas por uma linguagem arquitetônica válida e verdadeira. Esse arquiteto defendia, assim, uma imutabilidade dos princípios arquitetônicos.

Segundo Frampton, para Loos, toda cultura dependia de certa continuidade com o passado e não de uma procura da novidade formal. Para ele a modernidade se explicava, não como sujeita ao tempo, mas sim como dependente do contexto cultural. É importante salientar que a afirmação dessa constância de princípios e essa idéia de continuidade são associadas à adequação da arquitetura ao programa e à resposta às necessidades de um contexto cultural específico do período particular.

O século XIX foi tempo de atitudes historicistas por parte dos arquitetos, que provocaram cópias e imitações baratas de determinado estilo, pouco ajustadas à realidade vigente. Em vez de uma compreensão da linguagem de uma época histórica, era realizado um redesenho deformado do passado. Os arquitetos do período viam na cópia da arquitetura passada e no estudo de seus cânones e tratados uma legítima linguagem estética a ser trabalhada. Os grandes esforços eram direcionados para a defesa de um estilo antigo no lugar de uma discussão da contemporaneidade da arquitetura e das exigências que a sociedade do seu tempo, que passava por uma constante e acelerada mudança, lhes exigia. Esse historicismo era rechaçado por Adolf Loos. Ele também fez uso de uma linguagem clássica, mas sem uma excessiva ornamentação. Ela aparecia justamente com o objeto utilizado (textura, desenho e efeito visual da pedra) através de materiais da sua época. Loos escreveu: "... pergunto-me em que tempo teria preferido viver, então respondo-me que no atual". De acordo com Kenneth Frampton, Loos argumentava que o arquiteto originário da cidade era alguém desarraigado por definição, e, portanto, categoricamente alienado do vernáculo rural, não podendo compensar essa perda pretendendo herdar a cultura aristocrática do Classicismo ocidental. Pois a burguesia urbana – da qual ele procedia e à qual naturalmente servia – tinha, entre os seus outros atributos, uma configuração certamente não aristocrata. Ainda segundo Frampton, com a única exceção de Mies van der Rohe, talvez nenhum outro arquiteto da geração de Loos tenha sido tão consciente como ele do caráter irremediavelmente desarraigado da Idade Moderna.

A arquitetura evolui com a técnica e muda de acordo com a cultura em que está inserida e da qual acaba por se tornar a forma mais visível, apresentando características do seu tempo e lugar. O que Adolf Loos defendia é que o arquiteto não pode por si acelerar o processo, que o progresso não depende de indivíduos particulares, mas de grandes mudanças históricas. De acordo com Benévolo, no apelo wagneriano para a liberdade do artista e na inspiração decorativa de Olbrich e de Hoffmann, Loos vê uma espécie de dissipação cultural, substancialmente análoga à dos estilos tradicionais contra a qual combatem Wagner e os seus. O arquiteto tem que saber evoluir no mesmo ritmo do progresso e da técnica e com ela fazer uma arquitetura verdadeiramente do seu tempo. É dever do arquiteto compreender, desvendar e aplicar a técnica, inexistindo para Loos possibilidade de uma linguagem à margem dela. Tendo como princípios para uma arquitetura atual a cultura e a técnica de onde se constrói, a linguagem de uma época não se inventa nunca – ela ocorre. Segundo Leonardo Benévolo, Loos defende a modéstia e a discrição em contraposição ao culto da originalidade. Esse arquiteto era incapaz, de acordo com Frampton, de aceitar a idéia romântica de um indivíduo extremamente talentoso que transcendesse os limites históricos de sua própria época. Loos advertia: “Livra-te de seres original.”

O ato de inovar deriva antes de tudo de questão de percepção, ver o mundo com os olhos do seu próprio tempo, olhos que sejam críticos e questionem, procurem ver mais além. O arquiteto inovador é pois, aquele que questiona a realidade sobre novas perspectivas, não o que é responsável por uma arquitetura totalmente nova, mas por uma que mostra os novos valores e novos modos de ver. Ao valor do novo, Loos contrapõe, novamente segundo Benévolo, a avaliação não-emocional do que é conveniente.

“Pode-se fazer algo de novo somente se se pode fazê-lo melhor. Apenas as novas invenções – luz elétrica, cobertura de madeira e cimento, etc. – podem mudar a tradição.” (LOOS, 1914)

Adolf Loos se interessava – diferentemente dos seus contemporâneos do Art Nouveau, que se esforçavam para encontrar um "novo estilo", próprio da sua época – em buscar compreender o "sentido histórico", ou seja, descobrir dentro da História, que é um processo lento e progressivo, como deve ser a arquitetura do seu tempo, como ela deve interpretar e reordenar os valores tradicionais. A arquitetura, nessa ótica, não deve nem pode surgir como um ato criativo totalmente inovador, mas sim como parte do contínuo processo que persiste em transformar as formas gradualmente, refletindo sobretudo a técnica que evolui e os hábitos do quotidiano que se transformam de acordo com esses mesmos avanços técnicos. A arquitetura de um tempo deve portanto, surgir de modo natural a partir da realidade e apresentar-se como a resposta mais lógica aos problemas que vão surgindo na própria época. Toda forma é o resultado de um processo – não o inverso – e deve ter o seu fundamento embasado no estudo das mudanças. Em seu ensaio Regras para o que construir nas montanhas, de 1913, Loos escreveu:
“Não temas que te tachem de não ser moderno. Só permita aquelas transformações no modo de construir tradicional quando indiquem melhoras. Não sendo assim, conserve os sistemas tradicionais, pois a verdade, nem que tenha mil anos, compenetra-se melhor conosco que a mentira, que caminha ao nosso lado.”

De acordo com Frampton, quando o ensaio crítico Architektur foi publicado, em 1910, Loos já começava a perceber toda a força de uma conjuntura moderna, que persiste até hoje. Esse arquiteto antecipa uma crítica corrosiva à exageração anti-passado que irá dominar o Movimento Moderno através de seu pensamento já discutido aqui, que na realidade nada se pode inventar de novo absoluto. Adolf Loos critica a arquitetura do seu tempo, sobretudo os arquitetos do Art Nouveau, que foi uma forte reação contra o Classicismo praticado nos fins do século XIX, representando a primeira tentativa sistemática de mudar o sistema clássico da arquitetura e das artes decorativas e o primeiro estágio da arquitetura moderna na Europa. A procura por um estilo para a sua época, objetivo fundamental do movimento, faz-se através da negação de qualquer revivalismo, e até mesmo da própria história, o que se torna alvo da crítica voraz que Loos lhe faz, considerando-o inatual, uma arquitetura condenada a não ganhar lugar no tempo justamente por negar o processo histórico como princípio. Para ele, o Art Nouveau era visto apenas como mais um estilo transitório e superficial.

Frampton cita Theodor Adorno, que faz referência a Schönberg (compositor austríaco de música erudita, 1874-1951) e Loos dizendo que, para eles, a cultura tradicional e a inovação radical estão tão intrinsecamente unidas que nem uma nem outra podem ser classificadas vanguardistas.

Referências Bibliográficas.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução de Denise Bottmann e Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras. 6ed. 2001.

BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva. 3 ed. 2001.

FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

GIEDION, Sigfried. Espaço, Tempo e Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes, 2004.

SARNITZ, August. Adolf Loos 1870-1933: arquitecto, critico cultural, dandi. Traducción de Latido, Bremen. Madrid: Taschen, 2003.

SCHEZEN, Roberto. Adolf Loos: Arquitectura 1903-1932. Textos de Kenneth Frampton e Joseph Rosa. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, SA, 1996.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Extras / Downloads.

Adolf Loos – “Sobre um pobre homem rico”, “O princípio do revestimento” e “Regras para quem constrói nas montanhas”.
Loos - Textos


Adolf Loos - Ornamento e Delito.
Loos - Ornamento e Delito